FIM DO DIPLOMA PARA JORNALISTA

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Hoje, quebro o protocolo deste para Blog para sair do assunto futebol mineiro e protestar diante da decisão estapafúrdia, revoltante e retrógrada do Supremo Tribunal Federal.

O fim da exigência do diploma de jornalismo para o exercício da profissão é um golpe naquele já foi considerado o quarto poder do país.

Há quarenta anos, o reconhecimento da profissão veio para nos dar o direito, a possibilidade e a obrigatoriedade de um conhecimento e capacitação melhores.

Quando escrevo obrigatoriedade, quero dizer no sentido positivo. No sentido de que a profissão exige uma especialização maior do que simplesmente “usar de sua liberdade de expressão”.

Posso dizer isto em termos práticos: durante 9 anos fui apenas radialista sem formação acadêmica. Os motivos que me levaram a essa prática foram desde acomodação profissional até uma ligeira arrogância de achar que, a vida era apenas prática no dia-a-dia da função.

Graças a Deus e por exigência do mercado minha linha de raciocínio besta mudou. Fiz a faculdade de jornalismo.

Foram 4 anos de luta, estudos e sacrifício financeiro para concluir minha formação. Valeu!

Com os conhecimentos de História, Filosofia, Antropologia, Semiótica e de outras disciplinas aprendi que jornalismo, não é só fato. Não é só notícia ou liberdade de expressão como insistem em argumentar os “membros” do STF.

É muito mais: é o compromisso de uma profissão que luta a favor de uma sociedade melhor. Mais atenta e cidadã. Uma sociedade que tem direito à informação de qualidade e com responsabilidade.

Muitos daqueles que exerceram a profissão antes de 1969, não eram irresponsáveis. Muito antes pelo contrário. Eram intelectuais como Rubem Braga, Manuel Bandeira, Carlos Heitor Cony e tantos outros.

Eu antes de me formar nunca fui. Não sei se os próximos jornalistas o serão. Sei é que estarão menos qualificados, se não cursarem a faculdade que agora não é obrigatória.

É bom lembrar que a vida, a sociedade, a COMUNICAÇÃO, o JORNALISMO mudaram ao longo dos tempos. A qualidade do ensino no país é cada vez pior. Coisa que na época dos ícones citados acima, não era.

O engraçado é que, em tempos de maior exigência e capacitação dos profissionais em qualquer área, patrões e os MEMBROS do STF cometem uma sandice como esta.

Não vou me limitar aos MEMBROS porque a Associação Nacional de Jornais e a Associação Brasileira de emissoras de Rádio e TV, aliadas ao Ministério Público foram os responsáveis pela ação na justiça.

Acredito que os detentores do poder, querem ver uma classe mais burra e despreparada. Querem pagar salários sempre mais baixos.

Querem ver uma categoria cada vez mais subserviente e escrava.

Se não, por que entraram com a ação? É muito contraditório dizer que, só vão continuar a contratar profissionais qualificados, diante desta atitude digna de um podre poder.

E não me venha com o argumento de que na França, Estados Unidos e Alemanha, o diploma não é exigido. Nem sempre o que é bom para eles é o melhor para nós.

A Europa e os americanos têm culturas diferentes. São mais justos na formação do cidadão e acesso às oportunidades no mercado de trabalho para citar alguns superficiais argumentos.

Pena que a minha classe é desunida. Pena que chegamos a esse ponto por culpa nossa.

Nunca conseguimos fazer uma greve geral e paralisar todas a redações de TV, RÁDIO, JORNAL, REVISTAS, PORTAIS DE INTERNET para uma simples reivindicação salarial.

Não seria o caso agora. Já que podemos ser substituídos porque qualquer um que passar na Delegacia Regional do Trabalho e tirar o registro.

Aliás, muitos donos ou acionistas dos grandes órgãos de comunicação não são jornalistas de formação. São grandes empresários que visam só os lucros e as oportunidades comerciais.

Basta ver o compromisso deles com os Governos Federal, Estaduais e Municipais no recebimento de verbas publicitárias. E ainda: elegê-los ou reelegê-los.

Quero ainda deixar o meu protesto contra o Ministério Público.

Deveria era tomar providências como, exigir explicações dos critérios para distribuição de concessões para Rádios e Tvs.

Cobrar do Ministério da Educação a atuação de algumas "faculdades" que fazem consórcios de diplomas para jornalismo e outros cursos.

Combater a parceria entre órgãos de imprensa vendidos e governos que ludibriam a população com peças publicitárias enganosas.

Ajudar a exterminar a corrupção no país. A violência emocional, moral e intelectual que muitos políticos e juristas têm cometido contra a inteligência pública.

Mas não. Faz o Brasil, um país que continua pior.

3 comentários:

Vinicius Grissi 18 de junho de 2009 às 13:48  

Jogaram o curso de jornalismo na lata do lixo. Ignoraram o quanto à comunicação pode causar transformações profundas no homem e na sociedade. E isto, definitivamente, não pode ser feito por qualquer pessoa.

Uma vergonha! Que só servirá para desmerecer ainda mais a profissão, para desunir ainda mais a classe, para diminuir ainda mais o escasso salário e para reduzir a quase zero as vagas de emprego para os jornalistas.

Clítia Milagres 18 de junho de 2009 às 16:28  

Num mundo globalizado, onde as informações surgem sem se saber se são verídicas e/ou fundamentadas e onde precisamos de profissionais sérios e competentes, somos surpreendidos com uma decisão dessas.
Vale toda a indignação! É deixar todas as pessoas que lutam por um educação melhor de cabelo em pé.

Rivelle Nunes 18 de junho de 2009 às 18:00  

Ulisses,
parabéns pelas palavras. De todas as explicações e argumentos que li, contra e a favor, o seu post foi, provavelmente, o mais inteligente de todos. Convivi com esse drama da não obrigatoriedade do diploma desde minha entrada na faculdade. Lutei, me graduei e, agora, continuo a luta por um espaço no mercado. Como conseguir, se agora o filhinho de papai que acordou um belo dia e resolveu se tornar jornalista sai na frente? E se a moda pega, outros profissionais que também fiquem espertos. Afinal, para que diploma para, por exemplo, fazer uma peça publicitária? Abraços!

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